terça-feira, 28 de abril de 2020



Bolo de Laranja pra Iaiá


O dia caminha lindo, o ar fresco e o céu azul. Olho para o calendário e vejo que é 28. Não é outubro, mas era dia de uma desculpa para lhe ver. Tomar café com as gostosuras que fazia para servir depois da missa de São Judas Tadeu, seu santo de devoção. A tarde passa. Continuo fazendo minhas coisas, mas permanece o desejo de voltar no tempo, de sentir os cheiros da sua cozinha, o calor do seu afago. Um suspiro e me levanto da cadeira. Começo minha homenagem. Ligo o forno, num calor médio, para assar bolos em geral. Parto uma laranja ao meio, depois reparto, tiro caroços e um pouco da casca. Mas deixo algumas. Jogo no copo do liquidificador, acrescento três ovos inteiros, meia xícara de óleo, mais uma de açúcar, bato tudo. Vou acrescentando a farinha de trigo aos poucos até o aparelho não conseguir mais bater. É o ponto. Misturo uma colher de sopa de fermento em pó manualmente. Unto a forma, despejo e espero 30 minutos. Enquanto assa preparo uma calda rala com quatro colheres de açúcar e duas laranjas espremidas. Vinte minutos o aroma invade a casa, sinto um abraço com cheirinho de laranja. Fica clara a sua presença. É preciso um café forte pra acompanhar. Quase posso ouvir a voz rouca perguntando se ficou bom, “come mais, coloca manteiga”. O bolo ainda quentinho, faço furos com o garfo, derramo a calda e peneiro um pouco de açúcar de confeiteiro. Lembro dos detalhes, pois assim há mais tempo de você ficar aqui, me espiando, conferindo se estou indo bem. O primeiro pedaço derrete na boca, um finalzinho bem adocicado, fecho os olhos rapidinho, é pra ninguém ver que estou rezando. Uma oração pra você, por nós.