quinta-feira, 24 de março de 2011

Dos amores


Acho que matei as bruxas.

Quando era pequena, lembro do suor pingando no calor das cobertas. Rosto tapado, nem um buraquinho. Não podia deixar brecha para a perversa entrar no emaranhado de cabelos e panos.

Depois de anos decidi não acreditar mais nela. O medo, a falta de coragem de acender a luz, as visões da porta acabaram. Mas também desapareceu a conversa com os anjos e os possíveis espíritos. O outro lado sumiu. Vi explodir o sentimento de segurança em minhas escolhas. A coragem avançava. Bons dias foram aqueles...

Há momentos em que sinto raiva daquela decisão. Pra que espantar as bruxas? O mistério, as animações, a cortina das fadas, dos monstros me traziam certo conforto. A dor não caminhava tão dura. Havia sempre um pouco da lacuna preenchida por caldos mágicos.

Veio a dor dos amores. Aquela que enche os espaços de saudade. No lugar das fadas pousaram as explicações lúcidas. Os porquês das decisões. A lacuna traz agora um ar de maturidade ocupada pela razão dos 30 e poucos.

Ontem fechei todas as frestas da cortina. Apaguei a luz e saltei na cama simulando medo. Entrei no meu casulo. Cinco minutos e abri tudo. Esbaforida pela falta de ar debaixo das cobertas. Já rompi com isso. Ri de mim mesma.