Bolo de Laranja pra
Iaiá
O dia caminha lindo, o
ar fresco e o céu azul. Olho para o calendário e vejo que é 28. Não é outubro,
mas era dia de uma desculpa para lhe ver. Tomar café com as gostosuras que
fazia para servir depois da missa de São Judas Tadeu, seu santo de devoção. A
tarde passa. Continuo fazendo minhas coisas, mas permanece o desejo de voltar
no tempo, de sentir os cheiros da sua cozinha, o calor do seu afago. Um suspiro
e me levanto da cadeira. Começo minha homenagem. Ligo o forno, num calor médio,
para assar bolos em geral. Parto uma laranja ao meio, depois reparto, tiro
caroços e um pouco da casca. Mas deixo algumas. Jogo no copo do liquidificador,
acrescento três ovos inteiros, meia xícara de óleo, mais uma de açúcar, bato
tudo. Vou acrescentando a farinha de trigo aos poucos até o aparelho não
conseguir mais bater. É o ponto. Misturo uma colher de sopa de fermento em pó
manualmente. Unto a forma, despejo e espero 30 minutos. Enquanto assa preparo
uma calda rala com quatro colheres de açúcar e duas laranjas espremidas. Vinte
minutos o aroma invade a casa, sinto um abraço com cheirinho de laranja. Fica
clara a sua presença. É preciso um café forte pra acompanhar. Quase posso ouvir
a voz rouca perguntando se ficou bom, “come mais, coloca manteiga”. O bolo
ainda quentinho, faço furos com o garfo, derramo a calda e peneiro um pouco de açúcar
de confeiteiro. Lembro dos detalhes, pois assim há mais tempo de você ficar aqui,
me espiando, conferindo se estou indo bem. O primeiro pedaço derrete na boca, um
finalzinho bem adocicado, fecho os olhos rapidinho, é pra ninguém ver que estou
rezando. Uma oração pra você, por nós.