sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Felizes reuniões e um doce 2012 !

Não gosto da palavra balanço. Obrigação de medir os esforços pessoais. Jogar pra lá o que foi bom e pra cá o ruim. Isso me angustia bastante. Respostas não são absolutas. Bem e mal são relativos.

Gosto especialmente da palavra amadurecer. Ela não te exige, a cada ano, fazer análise da cadeia produtiva do amadurecimento. Ao contrário, a palavra sugere juntar tudo numa sopa só (nada primordial). A-MA-DU-RE-CER. Encher-se de experiência. Admiro as palavras que ocupam muitos espaços. Não pressionam. Nem dividem. Continuam.

Oportunamente, desejo que a palavra amadurecer faça parte de nossas ceias natalinas. Que além de transformar as frutas em comidas mais doces, também produzam, em 2012, sociedades mais solidárias e justas.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Aos visitantes

Levantei bem cedo. O tempo fechado me fez mudar o cardápio. Pensei no charuto de folha de uva e de repolho, preparado em um fundo bem caprichado de alho, carne, tomates e cebolas. Arroz com macarrãozinho cabelo de anjo dourado na manteiga. Para a entrada pasta de grão de bico com pão árabe e muito azeite e pimenta síria. Azeitonas pretas suculentas, quibe cru com bastante hortelã ao lado. Como tudo no Brasil, sincretismo. Logo para a sobremesa mousse de limão com raspinhas da casca por cima. A casa com flores do quintal, de preferência as vermelhas. Tudo cheirando à arrumação e perfumado pelo vapor das comidas. A família chegou com bastante falação, sacolas, beijos. Vovó com seus embrulhos de alumínio: pães para o café, amor em pedaço e um grande abraço. Mesa, discussões, risos e histórias. No final da tarde, meus rubores causados pela bebida. Renovação da mesa. Conversa com café “mais um monte de trem que o povo trouxe”. Hora de despedir, abrir as portas da saída. Aceno para os convidados. Ela acena dentro de mim e diz que o almoço estava do seu jeito. Sem tristeza. Saudade, mas nada grave. Bato o portão. “Se não chover, ano que vem, vou fazer churrasco com salpicão”...


Não sei o que vem depois da morte. Por enquanto não há conexão suficiente para acreditar na continuidade. Morrer é perder. Sigo sem adornos. Mas mudar o foco da morte nos faz deliciar-se de vida. Nada como encher a casa de gente que foi e gente que está. As lembranças só se completam quando estão todos juntos, na mesma história, sem pausa porque se falou de alguém que morreu. Tentar uma leitura pessoal do Dia dos Mortos no México? Quem sabe? É sem dúvida uma possibilidade de refletir sobre o poder da mente. Usar a imaginação, orientada ou não por crenças. Com todo respeito, gostei de escrever o 2 de novembro, baseado no culto em clima de festa. Celebração de origem indígena, o Dia dos Mortos para os mexicanos é celebrado com uma grande recepção aos parentes mortos. Um evento com comida, bolos, caveirinhas de açúcar, festa, música e doces preferidos dos mortos.


Segundo historiadores, as origens da celebração no México são anteriores à chegada dos espanhóis - Há relatos que os astecas, maias, purépechas, náuatles e totonacas praticavam este culto. Os rituais que celebram a vida dos ancestrais se realizavam nestas civilizações pelo menos há três mil anos. Na era pré-hispânica era comum a prática de conservar os crânios como troféus, e mostrá-los durante os rituais que celebravam a morte e o renascimento. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Dia_dos_Mortos)
Diferente da religião católica, a morte no pensamento dos antigos mexicanos não trazia a conotação de inferno e paraíso, servindo para castigar ou premiar pelo que o morto fez em vida. Ao contrário, o tipo de morte é que determina o caminho da alma. O Mictlan, por exemplo, era destinado a quem morria de morte natural. Para se chegar lá, a alma passaria por um caminho tortuoso e difícil, povoando diferentes lugares durante quatro anos.Interessante era o olhar para as crianças mortas. Num lugar especial, chamado Chichihuacuauhco, elas contavam com árvores em que ramos pingavam leite. Era uma espécie de criatório, pois as crianças de lá voltariam à Terra, quando sua raça fosse destruída.


O Dia dos mortos também é comemorado, semelhantemente ao evento mexicano, no Texas e Arizona, onde há muitas comunidades mexicanas. Em outros estados, a interação entre as tradições mexicanas e a cultura estadunidense está resultando em celebrações estendidas em manifestos artísticos e políticos.


Flores, orações e velas são levadas paras as sepulturas dos mortos em vários países da Europa. Em Portugal e Espanha, oferendas são feitas neste dia. Na Espanha, a peça Don Juan Tenorio é tradicionalmente apresentada.


No Brasil, o feriado católico convida para uma festa em intenção aos mortos. Um tanto melancólica, mesmo que a intenção seja positiva, as pessoas vão aos cemitérios e igrejas, com flores, velas e orações.


Manifestações em comemoração aos mortos chegam ao Haiti, misturando elementos católicos com tradições vudu. Tambores e músicas são tocados por toda a noite em celebrações pelos cemitérios para acordar Baron Samedi, o senhor dos mortos, e seu descendente, o Gede. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Dia_dos_Mortos)


Em 7 de novembro de 2003, a UNESCO distinguiu a festividade indígena do Dia dos Mortos como Obra Mestra do Patrimônio Oral e Intangível da Humanidade. O documento se destaca: "Esse encontro anual entre as pessoas que celebram e seus antepassados, desempenha uma função social que recorda o lugar do indivíduo no seio do grupo e contribui na afirmação da identidade..." (http://www.unesco.org/new/en/culture)


Enfim, a morte é o cessar definitivo da vida. A forma como é percebida por cada um talvez seja a chave para repensarmos a vida, o trato com nossos semelhantes e a maneira de relacionar com o mundo. Um dia escrevi: “Vida e Morte. Paradoxos que se completam e brincam de esconder enquanto insistimos numa separação. Quem sabe assumi-los como complementos resultará em valorizar cada segundo de vida? E que viver vai bem além de crescer, amar e multiplicar. Isso significaria humanizar a morte e assustar-se com a vida? Seria fabuloso sacudirmos com as surpresas da vida, porque a morte se tornaria tão humana e esperada, que nela mais nada residiria, sem espantos, sem partidas”.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Incuráveis

- Tem muito tempo que não encontramos! Por que está com a expressão de cansada? Aconteceu alguma coisa?
- Uai, tô? Não... Acordei muito cedo deve ser isso. Tem tempão mesmo. Desde aquele dia fatídico.
- A festa de casamento da Lurdinha. Mas foi tão chique, dançamos pra caramba! Lembra?
- Lembro...
- Então, me diga. Que mal há nisso?
- Pra você nenhum. Mas eu não gostei de me expor daquela maneira. Mostrar pras pessoas que gosto de dançar daquele jeito.
- Dançar é dançar, que bobagem!
- Exibi demais. Não acho que minha imagem ficou legal.
- Conversei com muita gente nas semanas seguintes à festa. Não falaram nada sobre você. Ah, mentira! O Eduardo, o Francis e a Magda disseram que você vive mergulhada em um vidro de formol!
- Viu só! Tanto me expus que notaram em mim! Eu sabia!
- Clara, tem quase um ano que o casamento aconteceu e você ainda se martiriza com esse pensamento? As pessoas já esqueceram. Quer dizer, se é que tinham algo pra esquecer!
- Carmem, você é sempre assim. Coloca panos quentes em tudo. Não quer falar sobre o que aconteceu, a verdade das coisas.
- Qual verdade Clara? Acha que minto, é isso?
- Acredito que enxerga a vida muito cor de rosa.
- E não é bom?
- Talvez seja. Em certos momentos... Mas o tempo todo Carmem! Não gosto do exagero.
- Não vejo dessa forma. Isso que está me pedindo é o mesmo que dizer “pega tudo que já aconteceu na sua vida e martirize os momentos ruins”.
- Nada disso. Estou pedindo “pegue tudo na sua vida e não se esqueça de refletir sobre os momentos ruins, não seja inconseqüente”.
- Prefiro lembrar o vestido da Lurdinha, das taças de espumante que bebi, das músicas que dançamos...
- Ai ai ai! Das músicas! Você também não se esquece dessa hora, de como eu estava exaltada! Viu só?
- Clara, pelo amor de Deus! Não lembro a roupa que você usava! Muito menos se o jeito de dançar estava extravagante!
- Ah, Carmem! Você se lembra sim. Em hora alguma mencionei a palavra extravagante. Falou, então estava no seu subconsciente.
- Melhor paramos a conversa por aqui.
- Também acho.
- Não gostaria de achar que pensa que sou uma lunática.
- Não falei isso! Você gosta de florear as coisas, é diferente.
- Evito é interpretar uma situação de forma tão dura. É verdade que gosto de ser romântica sonhadora. Isso não me impede de ser realista.
- Acho difícil.
- Tudo bem Clara. Mas como ficamos então? Tenho que ir... O que vamos guardar deste encontro?
- Eu vou guardar que estamos vivendo caminhos bem diferentes. E talvez não seremos tão amigas.
- É... Seu ponto de vista. Clarinha, eu vou guardar que nunca vi olhos mais lindos que esses seus. E que falamos sobre a vida.
- Incurável!
- Incuráveis, Clarinha, incuráveis!

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Tempestades

Avisem quando começar. Quando não restar mais folhas nas árvores. O menino parar de jogar bola na rua. A lavadeira recolher os lençóis. Minha avó deitar no quarto escuro. Quando ranger a gaveta das velas.

Às vezes me pergunto. Seria mais confortável saber a previsão das tempestades? Preparar o casaco. Fechar as janelas. Escurecer os quartos. Arranjar as lamparinas. Arredar os móveis. Guardar no bolso o telefone da distribuidora de energia. Cozinhar mais cedo. Antecipar os medos.

Hoje, olhando pela janela e ouvindo música, consegui sentir a vida em seu jogo do contrário. O de fora raramente coincidindo com o de dentro. A luz externa vivendo independente da escuridão interna. Mesmo aborrecido pela indiscrição do dia ensolarado, da falta de educação do céu travestido, fui derrotado. Nada melhor que sair da casa de molusco.

A realidade é que ninguém prepara pra enfrentar os desastres. A gente vive em função de lamber a lata de leite condensado. De viver até a última gota. A tempestade nos racha sangra, às vezes até mata. No entanto... “Passa, por favor, o pão de queijo e a manteiga. Gosto da combinação..”

sábado, 16 de julho de 2011

A viagem entre mundos

Não acredito em viagens que não nos transformem. Ideias a mais ou a menos. Mudar de lugar, exige retirar a lente, limpar e adequá-la ao foco. Nesse exercício, muitas vezes, apontamos para montanhas, rostos e estradas diferentes.

Mais uma vez as escolhas. Lugar comum. Que pede tranquilidade, aceitação interior e reflexão sobre novos pensamentos. Não há escolha perfeita nem melhor do que a outra. Existem escolhas necessárias. Que vão direcionando nossos planos. Um dia também não se adequam mais. Tempo de mudar de plano.

Podemos não nos dar conta da infinidade de planos que fazemos. Movidos por sonhos, desejos, ideias e crenças. Segundo especialistas sobre negócios, para ser plano é preciso ter meta, objetivo, tempo, começo meio e fim. No meu conceito é preciso primeiro ter coragem.

Não somos simples. Somos um grande negócio. Cada pessoa transforma a vida da outra de maneira rápida. É numa parada para socorrer a mulher grávida, no carinho na cabeça da criança, no olhar de indignação, no som da palavra “faremos”, e em muitos outros quadros. Como nos filmes, a distância em segundos entre um quadro e outro, o famoso frame, é também cada vez mais reduzido na nossa história. A nossa capacidade de analisar compete em desvantagem com a agilidade em que os quadros acontecem. No entanto, é preciso viajar entre mundos.

Mesmo corrido, é possível internalizar o pensamento diferente aqui outro acolá. Acreditar em uma unica ideia costuma engessar planos. Provável o sujeito nascer e morrer agarrado à ilusão da segurança. Nenhum mundo é só prazer. Cada passo, uma possibilidade de tombo. Cada tombo, outro passo. Quem disse que não teríamos dias intensos e escolhas complicadas?

quinta-feira, 24 de março de 2011

Dos amores


Acho que matei as bruxas.

Quando era pequena, lembro do suor pingando no calor das cobertas. Rosto tapado, nem um buraquinho. Não podia deixar brecha para a perversa entrar no emaranhado de cabelos e panos.

Depois de anos decidi não acreditar mais nela. O medo, a falta de coragem de acender a luz, as visões da porta acabaram. Mas também desapareceu a conversa com os anjos e os possíveis espíritos. O outro lado sumiu. Vi explodir o sentimento de segurança em minhas escolhas. A coragem avançava. Bons dias foram aqueles...

Há momentos em que sinto raiva daquela decisão. Pra que espantar as bruxas? O mistério, as animações, a cortina das fadas, dos monstros me traziam certo conforto. A dor não caminhava tão dura. Havia sempre um pouco da lacuna preenchida por caldos mágicos.

Veio a dor dos amores. Aquela que enche os espaços de saudade. No lugar das fadas pousaram as explicações lúcidas. Os porquês das decisões. A lacuna traz agora um ar de maturidade ocupada pela razão dos 30 e poucos.

Ontem fechei todas as frestas da cortina. Apaguei a luz e saltei na cama simulando medo. Entrei no meu casulo. Cinco minutos e abri tudo. Esbaforida pela falta de ar debaixo das cobertas. Já rompi com isso. Ri de mim mesma.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

A alma e a casa


“Amar é mudar a alma de casa”... Quando Mário Quintana disse isso, talvez pensasse no quanto o amor, o enamorar-se provoca mudanças, aguçando a percepção da vida sob outro prisma... Pode ser...

Olhei bem pra frase e pensei “como estes escritores são porretas”! Não estava enamorada nem apaixonada, mas vivendo uma situação que era preciso mudar a alma de casa. Era uma leitura que dizia que amar era alterar um modelo cômodo e agradável aos amados. Agir diferente é a melhor demonstração de amor que podemos dar. A casa da alma não pode ser sempre a mesma: a cozinha arrumada, roupa lavada, crianças limpinhas, pão e o café na mão, fruta mastigada na boca feito um sabiá alimentando os filhotes. Mas por quê?
Bem... acredito que modelos tem ciclos de vida. Num determinado tempo eles não podem ser mais habitado por aquela alma... Às vezes é necessário reinventá-lo, outras remodelá-lo. É... Amar exige sacrifícios, pois a vida seria bem mais confortável se os ninhos fossem para sempre, hein? Mas aí é que mora o perigo da palavra cuidar! Confundimos desde cedo, tornando-a sinônimo de escravizar. Escravizamos pais, maridos, mulheres, filhos, irmãos num jogo perigoso e catastrófico. Dedicar exclusivamente, viver em função, respirar o ar que respira: são as frases popularmente conhecidas quando a palavra assume este sentido.
E quando mudamos nossa alma de casa? Ah... É bem certo ouvir “você não cuida mais de mim”, “não me ama mais”, “egoísta”. Serão as palavras mais bonitinhas... Por isso mesmo é que não devemos fraquejar! Assim, pensar constantemente se nossas almas estão na casa certa, se o tempo já não desgastou as paredes e será preciso um “lugar” diferente, é questão de urgência. E que a frase - amar é mudar a alma de casa – passe a ser cada dia mais óbvia e necessária!
Escrevi esse texto em 09/01/09 ...continua presente em minhas reflexões...

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

SOS RIO DE JANEIRO

O Programa de Voluntariado do Viva Rio iniciou uma campanha de arrecadação de roupas e mantimentos para a região serrana do RJ.
Para ajudar, basta fazer a doação na sede do Viva Rio (Rua do Russel, 76, Glória) ou através de depósito bancário na conta do Viva Rio, no Banco do Brasil, agência 1769-8, conta-corrente 411396-9 e CNPJ: 00343...941/0001-28. Mais informações pelos telefones (21) 2555-3750 e (21) 2555-3785.

Contamos com sua ajuda!

Maricota