quarta-feira, 2 de outubro de 2013

a rede de maricota: Mistérios da vida

a rede de maricota: Mistérios da vida

Mistérios da vida

     Alice corria de um lado para o outro passando as mãos pelos cabelos. Fazia um esforço danado para lembrar-se onde a neta teria ido. “Como Luciana poderia abandoná-la daquele jeito”, questionava.  Ela era uma mulher de mais de 70 anos, morava sozinha e contava com a companhia da adolescente todas as noites. Período em que se sentia mais só e angustiada. Por isso a família decidira que alguém teria que ficar com Alice todas as noites para evitar qualquer acidente. A neta tinha disponibilidade e aceitou com carinho passar aquele tempo com a avó.
     Mas definitivamente não dava para entender porque ela sumira sem avisar, ao menos dizer quanto tempo ficara fora. Outra vez Alice ia até a cozinha, abria os armários, tentava encontrar alguma pista do desaparecimento de Luciana. Procurou dentro dos armários do quarto. “Quem sabe a danadinha estava lhe pregando uma peça?” Nada. Nem sinal de gente alguma. “Ah, tinha o quintal”, pensou. Alice recordou que Luciana gostava de catar flores secas para fazer suas caixinhas de artesanato. Pisou no quintal e ficou assustada com o que viu. Não havia árvores muito menos folhas secas no chão. “Que cabeça a minha! Esse quintal deve ser de outra casa. Não estou na minha casa.” Essa revelação provocou mais ansiedade e confusão. Onde estaria afinal, se ali não era sua bela casa de paredes rosa e cercada pelo jardim de hortênsias? As lágrimas começaram a brotar. Queria gritar por Luciana. Todas as luzes lá fora estavam apagadas. Já passavam das 22 horas.
     Alice gostava de rezar. Era muito religiosa. Viu que mesmo ali não sendo familiar ela poderia contar com um altarzinho em um dos quartos. Resolveu acender uma vela e bem baixinho começou a pedir para um dos santos. Ela desejava muito encontrar Luciana. Voltar para sua casa. Estava com muito medo.
As orações lhe davam mais confiança. Acreditava que o sentimento era uma graça concedida. A tranquilidade a fez raciocinar melhor e deixar um pouco de lado as tentativas de encontrar na memória a resposta para aquele mistério. “O único lugar que não procurei foi o banheiro. Quem sabe Luciana estaria lá.” Chegando mais perto do cômodo, viu pelas frestas da porta que a luz estava acesa. Aproximou mais ainda da porta e ouviu a voz de Luciana. Estava cantando no chuveiro! Agora totalmente calma Alice aguardou a saída da neta. Luciana saiu contente e se assustou com a avó plantada bem ali na sua frente.
     - Vovó, que foi isso? Disse a menina sem entender a situação.
    - Luciana, eu achei que tivesse me abandonado, minha filha! Procurei pela casa toda e você não estava.  Depois de muito tempo vi as luzes acesas. Aí me lembrei de que havia dito que entraria para o banho.
   - Vovó, eu demorei apenas dez minutos no chuveiro! A senhora estava vendo novela por isso não me preocupei em me apressar!
   - Esqueci completamente que me falou isso... Bom, mas agora que solucionamos o seu sumiço, me leva pra casa, Lucina?
     Calmamente a menina, que já estava acostumada com os esquecimentos da avó, tomou-a pelos braços e disse:
  - Vovó, temos outro grande mistério pra resolver. Definitivamente, precisamos plantar mais hortênsias naquele pedaço de terra que ainda resta no seu quintal. Quem sabe voltamos para rosa a cor das paredes?
   - Luciana, sabe que é uma boa ideia. Engraçado que por um momento achei que estivesse na casa errada!