sexta-feira, 29 de julho de 2011

Tempestades

Avisem quando começar. Quando não restar mais folhas nas árvores. O menino parar de jogar bola na rua. A lavadeira recolher os lençóis. Minha avó deitar no quarto escuro. Quando ranger a gaveta das velas.

Às vezes me pergunto. Seria mais confortável saber a previsão das tempestades? Preparar o casaco. Fechar as janelas. Escurecer os quartos. Arranjar as lamparinas. Arredar os móveis. Guardar no bolso o telefone da distribuidora de energia. Cozinhar mais cedo. Antecipar os medos.

Hoje, olhando pela janela e ouvindo música, consegui sentir a vida em seu jogo do contrário. O de fora raramente coincidindo com o de dentro. A luz externa vivendo independente da escuridão interna. Mesmo aborrecido pela indiscrição do dia ensolarado, da falta de educação do céu travestido, fui derrotado. Nada melhor que sair da casa de molusco.

A realidade é que ninguém prepara pra enfrentar os desastres. A gente vive em função de lamber a lata de leite condensado. De viver até a última gota. A tempestade nos racha sangra, às vezes até mata. No entanto... “Passa, por favor, o pão de queijo e a manteiga. Gosto da combinação..”

sábado, 16 de julho de 2011

A viagem entre mundos

Não acredito em viagens que não nos transformem. Ideias a mais ou a menos. Mudar de lugar, exige retirar a lente, limpar e adequá-la ao foco. Nesse exercício, muitas vezes, apontamos para montanhas, rostos e estradas diferentes.

Mais uma vez as escolhas. Lugar comum. Que pede tranquilidade, aceitação interior e reflexão sobre novos pensamentos. Não há escolha perfeita nem melhor do que a outra. Existem escolhas necessárias. Que vão direcionando nossos planos. Um dia também não se adequam mais. Tempo de mudar de plano.

Podemos não nos dar conta da infinidade de planos que fazemos. Movidos por sonhos, desejos, ideias e crenças. Segundo especialistas sobre negócios, para ser plano é preciso ter meta, objetivo, tempo, começo meio e fim. No meu conceito é preciso primeiro ter coragem.

Não somos simples. Somos um grande negócio. Cada pessoa transforma a vida da outra de maneira rápida. É numa parada para socorrer a mulher grávida, no carinho na cabeça da criança, no olhar de indignação, no som da palavra “faremos”, e em muitos outros quadros. Como nos filmes, a distância em segundos entre um quadro e outro, o famoso frame, é também cada vez mais reduzido na nossa história. A nossa capacidade de analisar compete em desvantagem com a agilidade em que os quadros acontecem. No entanto, é preciso viajar entre mundos.

Mesmo corrido, é possível internalizar o pensamento diferente aqui outro acolá. Acreditar em uma unica ideia costuma engessar planos. Provável o sujeito nascer e morrer agarrado à ilusão da segurança. Nenhum mundo é só prazer. Cada passo, uma possibilidade de tombo. Cada tombo, outro passo. Quem disse que não teríamos dias intensos e escolhas complicadas?