Desfalar: palavra inexistente; modo
popular de classificar o ato “involuntário” de muitos, inclusive políticos, de
dizer uma determinada coisa e não admitir que disse; prometer e não cumprir;
contradizer-se; escorregar feito quiabo;
mudar de opinião e não assumir; ato de dizer que não falou.
Estava pensando
nesta mania que algumas pessoas têm de dizer que não falou determinada coisa,
ideia, opinião, baboseira ou promessa. Por causa disso, em muitas ocasiões briguei, gritei, argumentei, falei mais alto, lutando e relutando com o tal
desfalar. Torturava-me assistir aos programas políticos, onde candidatos usavam
os exemplos da má administração da oposição para concluir que era hora de
mudar. Votar em alguém que faria algo melhor. Mas passado o tempo da caça, os
matadores se arrebanhavam num só grupo, dizendo-se mais fortes com o apoio dos
adversários. Política das alianças, libertadora das ofensas e das
maledicências, legitimadora do desfalar, pois não importa o que foi dito. “Na
política, adversários; na administração, companheiros”.
E o povo cada
vez mais sem entender. As palavras dos discursos se perdendo com o tempo, pois
não há ação correspondente. Falar é uma coisa. Agir é outra. Hoje eu discurso
e amanhã a gente discute! Depois dos resultados das urnas ninguém se recorda mais dos
ataques. Agora já se lambem e se orgulham das crias, dos projetos inovadores
fundados à base da unidade. Que seja feita a tua vontade!
E todos os anos
eleitorais, o desfalar se repete, sendo parte integrante do elenco.
E o povo às oito
e meia da noite a assistir, um homem falando...
Eleição me faz
lembrar bastante do meu avô Geraldo. Homem que gostava de anotar todas as
nossas “grandes falas”. Era alguém teimar e lá ia ele buscar seu caderninho
meio ofício, com aspirais, pauta colegial e folhas amareladas.
E de tempos em tempos, para ninguém se
esquecer do que foi dito, vinha ele arrastando o chinelinho com a prova na mão.
“Isso aqui, minha filha, é pra provar que foi fulano quem disse. Não gosto de
mentiras. Olha aqui o que ele disse! Tem a data. Sempre escrevo embaixo foi
fulano quem disse isso”.
Meu sábio avô. Sempre
acreditando na legitimidade do seu caderninho...
Enquanto isso, a
muitos quilômetros de sua terra natal, nada mudou. Políticos ainda continuam
desfalando e, por vezes, se ferrando no país da grampolândia!
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